O tempo é criação de Allah!

Ele não nos pertence, nem está sob nosso controle.Cada instante é uma concessão que passa e não retorna.

Vivemos como se sempre houvesse depois,
mas o tempo avança silenciosamente,
registrando escolhas, intenções e prioridades.

A verdadeira perda não é material.
É deixar a vida passar sem fé,
sem boas obras,
sem verdade e sem paciência.

Cada amanhecer é uma nova oportunidade.
Cada pôr do sol encerra um trecho da vida para sempre.
O tempo livre, quando desperdiçado,
torna-se arrependimento.

Ainda assim, Allah concede misericórdia:
há barakah no tempo dedicado a Ele.
Minutos com consciência valem mais
do que anos em distração.

Enquanto ainda há tempo,
volta-te para Allah.
Reorganiza prioridades.
Investe o hoje como provisão para a eternidade.

O tempo passa.
Mas o tempo com Allah jamais se perde.

https://madrassaaljannah.org/o-tempo-que-se-perde-e-o-tempo-que-salva/


“Tire um tempo do seu tempo para passar um tempo com o Dono do tempo enquanto há tempo.”

O tempo: um bem confiado, uma prova e um caminho para a eternidade

Essa frase resume uma das verdades mais profundas da espiritualidade islâmica: o tempo não é apenas um recurso, mas um depósito confiado, uma medida da vida, e um campo de cultivo para o que virá depois.

No Islã, o tempo não pertence ao ser humano. Ele é vivido, administrado e devolvido. Nós não o criamos, não o controlamos e não o recuperamos.

O que nos cabe é como o usamos e é justamente aí que mora a responsabilidade.

Allah é Quem governa o tempo e o tempo é um sinal

O ciclo do dia e da noite, a alternância das estações, o nascer e o pôr do sol, o amadurecimento do corpo e a passagem das gerações não são detalhes do universo, são sinais que educam o coração.

É a grandeza de Allah, que determina ritmos, limites, começos e fins. A fragilidade humana, que vive sob prazos que não escolheu e sobre tempos que desperdiçou para buscar o nada e a vaidade tola.

O tempo é o cenário. A questão é o que fazemos nele.

A espiritualidade islâmica nos convida a trocar a queixa por consciência. Em vez de o tempo está passando, a pergunta é o que estou plantando enquanto ele passa?.

O tempo é um capital. Ele nos eleva, ou ele nos distrai

A vida nos empurra para um modo automático: tarefas, mensagens, metas, comparações, ansiedade, entretenimento sem fim. O Islã chama isso pelo nome mais direto: ghaflah, distração, desatenção espiritual.

E aqui está o ponto. A distração não precisa ser pecado evidente para ser destrutiva. Às vezes, o maior roubo de tempo vem do que é permitido. Excesso de conversa, excesso de tela, excesso de consumo, excesso de pressa, excesso de atividades sem propósito!

“Tirar um tempo para Allah” é recuperar o governo de si.

É interromper o fluxo do mundo

para lembrar o sentido do mundo.

As orações como disciplina do tempo e cura da pressa

Cinco vezes ao dia, o Islã coloca a alma diante de um relógio diferente: não o relógio da vaidade em aparecer, do lucro, nem da performance, nem do entretenimento, mas o relógio do retorno a Allah.

Quem aprende a guardar a oração aprende a guardar o tempo. E quem guarda o tempo encontra, com a permissão de Allah, barakah. É a expansão do proveito. Não é mágica. É fruto de foco, propósito e pureza de intenção.

Barakah não é ter mais horas, é ter mais benefício nas horas que existem. Há quem tenha agenda livre e viva vazio; há quem tenha pouco tempo e viva com sentido.

No Islã, barakah vem junto com a intenção sincera, a constância, o dhikr e com o evitar o desperdício da fala, da tela, dos impulsos, da comparação.  

O tempo não é só o passar dele, o tempo é o construir.

O Islã nos ensina que a existência tem prestação de contas. Isso dá seriedade ao cotidiano. Não é para viver com pânico, mas com dignidade.

Por isso, o muçulmano maduro não espera um dia para voltar. Ele volta enquanto há tempo. Volta quando percebe que esfriou. Volta quando se pegou vivendo no automático e volta quando entende que a morte não marca reunião.

E essa volta não precisa começar com algo grande. Ela pode começar com o mais simples e verdadeiro: uma oração no horário, um istighfār sincero, uma página do Alcorão, um minuto de dhikr com presença.

Um caminho prático: tirar um tempo do tempo

Âncora diária: guardar as cinco orações como “pilares do relógio”.

Minutos fixos de Qurʾān: mesmo que seja pouco, mas todo dia.

Dhikr entre tarefas: no caminho, na fila, antes de iniciar algo.

Redução consciente de ruído: escolher uma distração para cortar ou diminuir.

O objetivo não é “virar outra pessoa em um dia”. É retomar a direção.

Enquanto há tempo

O mundo ensina a correr; o Islã ensina a chegar. Chegar em si, chegar na sinceridade, chegar na oração, chegar no arrependimento, chegar na consciência de Allah.

No fim, o tempo que passa não é o maior problema. O maior problema é passar pelo tempo sem passar por Allah.

Então, enquanto ainda há tempo tire um tempo do teu tempo para estar com o Dono do tempo. Porque o tempo que você negligencia na adoração não volta, mas o tempo entregue a Allah, com sinceridade, permanece.

Buscar conhecimento é ato de adoração

No Islã, o conhecimento começa com intenção sincera, cresce com constância e se completa quando é colocado em prática. Ele nasce no Alcorão, é aprendido com estudiosos qualificados e transforma o coração quando buscamos o agrado de Allah. A busca do conhecimento

📖 Não é apenas saber.
🕊 É viver o que se aprende.
🤲 É corrigir-se e buscar o perdão de Allah.

👉 Aprenda da forma correta.
👉 Caminhe com propósito.

A busca do conhecimento constitui um dos mais nobres atos de adoração, pois ela não se limita à aquisição de informações, mas envolve a purificação da intenção, a retidão do método e a transformação da conduta. O conhecimento verdadeiro conduz o servo à obediência consciente, à humildade e à proximidade de Allah, o Altíssimo.

O primeiro fundamento dessa jornada é a intenção sincera. Buscar o conhecimento deve ter como finalidade agradar a Allah, remover a ignorância de si mesmo e beneficiar a família, a comunidade e a Ummah como um todo. Toda ação é avaliada segundo a intenção que a acompanha e o conhecimento buscado por vaidade, disputa ou reconhecimento perde sua bênção e seu propósito.

Associada à intenção correta está a constância. Grandes objetivos exigem esforço e dedicação, mas o caminho do conhecimento é percorrido, na maioria das vezes, por passos pequenos e regulares. A perseverança supera a pressa e o acúmulo gradual do aprendizado produz firmeza e profundidade. O conhecimento é adquirido pouco a pouco e não de forma abrupta.

Outro princípio essencial são os estudiosos qualificados. Allah ordena que se pergunte aos detentores do conhecimento quando se ignora algo, pois são eles os herdeiros dos Profetas e os responsáveis por transmitir, explicar e preservar o entendimento correto do Alcorão e da Sunnah. Assim como se confia aos médicos a saúde do corpo por sua formação e competência, confia-se aos estudiosos autênticos o cuidado da saúde espiritual da comunidade. Por isso, o estudante deve ser cauteloso quanto às fontes das quais aprende, pois este conhecimento é sua religião.

O caminho do saber deve começar pelo Alcorão, que é a base e o eixo de todo o conhecimento islâmico. Mais do que memorizar seus versículos, o estudante deve estabelecer com ele uma relação contínua e permanente, marcada pela leitura, reflexão, compreensão e prática. O Alcorão não é apenas o início da jornada, mas o companheiro que orienta toda a vida.

Entretanto, o objetivo do conhecimento não é o acúmulo intelectual, mas a ação consciente. O Alcorão e a Sunnah foram revelados para serem vividos. Quando o estudante aprende que algo é proibido, afasta-se disso. Quando aprende uma ordem de Allah, apressa-se em cumpri-la e quando reconhece algo benéfico para esta vida e para a Outra, esforça-se para realizá-lo conforme suas possibilidades. O conhecimento que não se traduz em ação torna-se argumento contra aquele que o possui.

Por fim, o estudante deve ser constante no pedido de perdão. O conhecimento é luz e essa luz não se estabelece em um coração negligente ou persistente no pecado. Muitas dificuldades intelectuais têm origem espiritual e o arrependimento sincero é uma das chaves para a abertura do entendimento. Os grandes sábios davam especial atenção a isso, buscando o perdão de Allah sempre que encontravam obstáculos na compreensão.

Assim, a busca do conhecimento exige intenção pura, constância, orientação correta, vínculo permanente com o Alcorão, prática do que se aprende e humildade diante de Allah. O verdadeiro conhecimento não engrandece o ego, mas disciplina a alma, retifica as ações e conduz à retidão.


Ações recomendadas no dia de Jumu’ah

Sura da Caverna

Bismillāhi ar-Raḥmāni ar-Raḥīm

O dia de Jumuʿah é o mais nobre da semana para os muçulmanos. Abaixo estão práticas recomendadas (sunnah) para aproveitar esse dia abençoado:

Fazer ghusl (purificação completa)
O ghusl é uma forma de se apresentar diante de Allah com limpeza física e espiritual, preparando-se para a oração de sexta-feira.

Recitar a Sūrat al-Kahf
A recitação da Surata al-Kahf traz luz (nūr) para a semana inteira, da sexta-feira até a próxima, e proteção contra provações.

Dar ṣadaqah (caridade)
A caridade em Jumuʿah tem recompensa ainda maior. Pode ser dinheiro, alimento, ajuda ou qualquer boa ação feita com sinceridade.

Vestir sua melhor roupa
Allah ama a beleza e a dignidade. Vestir-se bem para a oração demonstra respeito ao dia e à congregação.

Fazer muito dhikr (lembrança de Allah)
Repetir tasbīḥ, taḥmīd, takbīr e istighfār fortalece o coração e aproxima o servo de Allah.

Subḥānallāh × 33

Al-ḥamdu lillāh × 33

Allāhu akbar × 34

Astaghfirullāh × 100

Essas lembranças são leves para a língua, mas pesadas na balança das boas ações, e trazem tranquilidade ao coração.

Ouvir atentamente o khuṭbah (sermão)
Durante o khuṭbah, é obrigatório ouvir com atenção, em silêncio, refletindo sobre as palavras e lições transmitidas.

Fazer muitas duʿās (súplicas)
Existe uma hora especial em Jumuʿah em que as súplicas são aceitas. Aproveite para pedir com humildade e confiança.

Rabbi ighfir lī, warḥamnī, wahdinī, wa ʿāfinī, warzuqnī.

“Ó meu Senhor, perdoa-me, tem misericórdia de mim, guia-me, concede-me bem-estar e sustento.”

Enviar muitas bênçãos (ṣalāh e salām) ao Profeta
Enviar ṣalāh e salām ao Profeta Muḥammad ﷺ é altamente recomendado nesse dia e traz imensa recompensa.

Allāhumma ṣalli ʿalā Muḥammad wa ʿalā āli Muḥammad,
kamā ṣallayta ʿalā Ibrāhīm wa ʿalā āli Ibrāhīm,
innaka Ḥamīdun Majīd.
Allāhumma bārik ʿalā Muḥammad wa ʿalā āli Muḥammad,
kamā bārakta ʿalā Ibrāhīm wa ʿalā āli Ibrāhīm,
innaka Ḥamīdun Majīd.

Que Allah nos permita viver o Jumuʿah com consciência, devoção e sinceridade.

Quando o céu permaneceu silencioso

No final de um dos primeiros anos da missão profética, em uma época correspondente aos meses finais do calendário solar, o Profeta Muḥammad ﷺ enfrentou um dos momentos mais emocionalmente intensos de sua vida: a pausa temporária das revelações. Dias se passaram. Depois semanas.

Nenhum versículo descia. Nenhuma palavra dos céus. Os idólatras de Meca zombavam: “O seu Senhor o abandonou.” E embora o Profeta ﷺ fosse o mais firme dos homens, seu coração humano sentia a dor dessa ausência. Ele ansiava pela Palavra divina como alguém sedento ansia pela água. Era um período de inverno espiritual, frio, silencioso e pesado.

Foi então, num amanhecer brilhante, que Jibrīl عليه السلام desceu novamente, trazendo palavras que seriam eternas:

“Pelo sol da manhã! E pela noite quando se torna tranquila! Teu Senhor não te abandonou, nem te detestou.” (Al-Ḍuḥā 93:1–3)

O céu rompeu seu silêncio com consolo. Allah afirmou que nunca abandonou Seu Profeta. E afirmou mais: “E, certamente, o futuro será melhor para ti do que o passado.” (93:4)

Foi uma cura, um abraço celestial, um renascimento da confiança.

Allah lembrou ao Profeta ﷺ das graças que O acompanharam desde a infância, e concluiu com três mandamentos luminosos:

  • Não oprimas o órfão.
  • Não afastes quem te pede.
  • Proclama as bênçãos de teu Senhor.

Era como se Allah dissesse: “Mesmo quando você sente ausência, Eu estou cuidando de você.”

Significado teológico

  1. Allah nunca abandona Seus servos, mesmo quando Suas sabedorias ocultas nos fazem atravessar períodos de silêncio.
  2. O valor do Profeta ﷺ é reafirmado pelo próprio Senhor dos mundos.
  3. O capítulo ensina que a revelação tem tempos determinados nem sempre contínuos, mas sempre perfeitos em sabedoria.
  4. O versículo “o futuro será melhor” tornou-se fundamento de otimismo islâmico.

Lições de hoje

  • A ausência de resposta não significa rejeição.
  • O atraso não é punição, é preparação.
  • Se até o melhor dos homens passou por momentos de silêncio, nós também passaremos.
  • E assim como ele recebeu consolo, o crente também receberá.

Reflexão

O que em sua vida parece silêncio agora? Onde você sente que Allah “se afastou”?

Surata Ad-Duḥā responde:

Ele nunca se afasta. Ele prepara. Ele cuida. Ele devolve luz.

Duʿā

Ó Allah, Aquele que consola os corações, envia luz sobre nossas manhãs, acalme nossas noites e faça nosso futuro melhor do que nosso passado, assim como fizeste com Teu amado Profeta Muḥammad ﷺ. Amīn.

Curiosidade sobre a vida do outro

A tradição islâmica estabelece distinções entre práticas moralmente reprováveis relacionadas à curiosidade sobre a vida alheia. Entre elas encontram-se o tajassus, que é a investigação indevida da intimidade alheia; a ghibah, que consiste em mencionar alguém na sua ausência com algo que essa pessoa desaprovaria e a namīmah, que é a propagação de boatos e informações que fomentam discórdia.

A formulação clássica de ghibah é registrada por Imām An-Nawawī em Riyāḍ aṣ-Ṣāliḥīn, ao citar o hadith no qual o Mensageiro de Allah ﷺ define:

“Ghibah é mencionares teu irmão com algo que ele detestaria.”

Quanto ao tajassus, Ibn Kathīr, em sua exegese da Surata Al-Ḥujurāt (49:12), esclarece que o termo se refere ao ato de “procurar deliberadamente as falhas ocultas das pessoas”, violando a privacidade e a honra que o Islã ordena resguardar.

Proibição explícita no Alcorão

O versículo diz:

“E não espionem…” (wa lā tajassasū) — Al-Ḥujurāt 49:12.

Hadiths autênticos sobre investigar a vida das pessoas

Hadith 1: Allah expõe quem expõe os outros

“Quem investiga as falhas de seu irmão, Allah investigará suas falhas…” Ṣaḥīḥ al-Bukhārī.

Hadith 2: Deixar o que não lhe diz respeito

“Da perfeição do Islã do indivíduo está deixar aquilo que não lhe diz respeito.Tirmidhi.

Hadith 3: Segurança da língua

“O muçulmano é aquele de cuja língua e mão os demais estão a salvo.” Ṣaḥīḥ Muslim.

A curiosidade indevida corrompe o coração

Diversos teólogos analisaram a dimensão espiritual desse vício. Al-Ghazālī, no Iḥyāʾ ʿUlūm ad-Dīn, coloca o tajassus como uma doença do coração associada à inveja e à arrogância. Ibn Taymiyyah, em Majmūʿ Fatāwā, afirma que o crente deve se ocupar de suas próprias falhas e Ibn al-Qayyim, no Madarij as-Sālikīn, explica que investigar pecados alheios leva à destruição espiritual.

Interesse saudável x curiosidade pecaminosa

An-Nawawī, em seu comentário aos hadiths, distingue que “investigar por justiça” (baḥth ʿan al-ḥaqq) é permitido, já “investigar por malícia” (baḥth ʿan ʿatharah an-nās) é proibido.

Impacto social e comunitário

Os juristas de diversas escolas concordam que proteger a honra do muçulmano é obrigação coletiva (farḍ kifāyah) e violá-la cria corrupção social (fasād) e quebra de confiança (thiqqah).

Posição dos teólogos e juristas sobre privacidade

O tema da privacidade é tratado e dentre as proibições fundamentais como entrar em uma casa sem permissão (Alcorão 24:27), espionar, ouvir conversas, vigiar comportamentos e ou procurar pecados ocultos.

Virtude oposta: proteger a honra e ter boa suposição

Os sábios afirmam que três virtudes anulam o tajassus. A boa suposição (ḥusn adh dhann), o cobrir falhas (satr al-uyub e o silêncio virtuoso (samt).

Duʿāʾ

Ó Allah, purifique nossos corações de curiosidade indevida, fortaleça-nos contra investigar aquilo que não nos diz respeito e torne-nos guardiões da honra dos nossos irmãos e irmãs. Amīn.

Referências

Muhammad al-Ghazālī — Khulq al-Muslim.

Abdul Fattah Abu Ghuddah — Min Akhlāq al-ʿUlamāʾ.

Yūsuf al-Qaraḍāwī — Al-Ḥalāl wa al-Ḥarām fī al-Islām.

O respeito entre os muçulmanos

A convivência entre muçulmanos é regida por princípios sagrados que não podem ser negligenciados. O Alcorão e a Sunnah estabelecem um padrão elevado de respeito, honra e boa conduta, especialmente nas questões simples do cotidiano, onde os corações são testados e a verdadeira fé se manifesta. Allah ordena:

“Ó vós que credes, evitai muita das suposições, pois algumas delas são pecado. E não vos espieis, nem faleis mal uns dos outros.” (Qur’an 49:12)

Esta ordem divina se aplica aos pequenos momentos comentários cotidianos, mensagens, conversas rápidas, frustrações momentâneas, mal-entendidos domésticos ou comunitários. O muçulmano vive com autocontrole e vigilância do coração. O Profeta ﷺ reforçou esse princípio, dizendo:

“O muçulmano é aquele do qual os outros muçulmanos estão seguros de sua língua e de suas mãos.” (Sahih Bukhari, Muslim)

Isso significa que, no dia a dia, não é permitido que o muçulmano cause dano verbal, emocional ou moral ao seu irmão. Respeito não é opcional: é um ato de adoração.

Grande parte das inimizades nasce não de grandes pecados, mas de pequenas palavras e julgamentos apressados. O Profeta ﷺ disse:

“É suficiente para uma pessoa ser considerada pecadora repetir tudo o que ouve.” (Muslim)

Portanto, em casa, no trabalho, no grupo da mesquita, nas redes sociais, é proibido alimentar boatos, repassar suspeitas, interpretar intenções ou criar narrativas não verificadas.

Diferenças acontecem, mas o adab deve permanecer firme. Allah diz:

“E os servos do Misericordioso são aqueles que caminham na terra com humildade, e quando os ignorantes lhes dirigem palavras ásperas, respondem com paz.” (Qur’an 25:63)

Assim, mesmo quando nos irritam, mal interpretam ou provocam, respondemos com dignidade. O respeito é parte da fé. O Profeta ﷺ disse:

Allah advertiu duramente:

“E não deis as costas uns aos outros, nem vos desprezeis. Certamente o mais honrado entre vós, diante de Allah, é o que tem mais taqwa.” (Qur’an 49:11-13)

Humilhar alguém por aparência, origem, nível de conhecimento, erros passados ou diferenças menores é uma violação direta da lei divina. O Profeta ﷺ disse:

“É suficiente para uma pessoa ser má humilhar seu irmão muçulmano.” (Muslim)

Respeito não se revela apenas em grandes provas, mas nas pequenas rotinas como controlar o tom de voz, respeitar filas, horários e prioridades, não interromper, devolver mensagens com educação, não ignorar cumprimentos, pedir desculpas rapidamente e perdoar com facilidade.

Allah ama os que purificam seu caráter e tratam os outros com excelência.

A irmandade islâmica é um elo sagrado. O respeito entre os muçulmanos não é mero comportamento social, mas um pilar de fé e submissão a Allah. Todo gesto de bondade, paciência e adab é registrado; toda palavra injusta, também.

Quem respeita seus irmãos está respeitando as ordens de Allah.Quem ofende seus irmãos está desobedecendo Aquele que ordenou a misericórdia.

Ó Allah, purifica nossos corações de malícia, inveja e arrogância.

Concede-nos língua verdadeira, caráter nobre e comportamento que Te agrade.

Une nossos corações, remove de nós a fitnah, e faz de nós servos que honram a irmandade da fé.

Amanah: o teste silencioso do coração

A confiança entre muçulmanos é um dos fundamentos mais nobres da fraternidade que o Islã estabelece. Ela surge do coração que reconhece no outro a honestidade, a veracidade e o compromisso comum de viver conforme a orientação de Allah.

Confiar é guardar o que nos é confiado, respeitar limites, preservar segredos, cumprir promessas e agir com integridade mesmo quando ninguém está olhando.

A verdadeira confiança não é ingenuidade, mas sim retidão, justiça e responsabilidade: lembrar o irmão com gentileza, aconselhar com sinceridade, evitar enganos e manter a transparência mesmo diante das diferenças.

Onde existe confiança, existe segurança e onde existe segurança por Allah, nasce força, barakah e harmonia para toda a comunidade.

Quando o coração desperta

Nesse turbilhão, torna-se difícil viver o momento presente, concentrar-se na oração e manter viva a lembrança de Allah. O Islã, em sua sabedoria, nos ensina a cultivar a presença consciente não apenas para o bem-estar emocional, mas como forma de purificação espiritual e fortalecimento da fé.

Nós, seres humanos contemporâneos, vivemos cercados por estímulos constantes como informações, sons, distrações e redes sociais, que tornam o silêncio e a introspecção quase insuportáveis. A agitação interfere na capacidade de viver plenamente presente, enfraquece a concentração na oração e afasta o coração da lembrança de Allah (swt).

Cultivar a atenção plena é, portanto, um meio de reencontrar propósito, direção e equilíbrio na vida cotidiana.

Desenvolvendo a habilidade de estar consciente

A habilidade de estar consciente do momento presente, sem se deixar dominar por pensamentos, emoções ou sensações passageiras é considerada na psicologia como uma ferramenta terapêutica para observar e reorganizar padrões mentais.

Para os muçulmanos, a atenção plena não se limita ao bem-estar mental e  emocional, mas abrange o bem-estar espiritual, profundamente enraizado na consciência e no relacionamento com Allah (swt).

Assim, a atenção plena, em sua essência islâmica, é um estado de presença que nutre o coração e fortalece a fé, permitindo que o crente viva cada instante com consciência da presença divina.

A atenção plena na perspectiva islâmica

No Islã, o conceito equivalente à atenção plena é chamado muraqabah, palavra derivada da raiz árabe que significa “vigiar, observar, considerar cuidadosamente”.

Muraqabah é a consciência constante de que Allah (swt) observa todas as nossas ações, intenções e pensamentos. É viver com o coração desperto, sabendo que Ele conhece o mais íntimo de nós.

Essa vigilância interior inspira o muçulmano a agir com sinceridade, retidão e modéstia, lembrando-se de que está sempre sob o olhar de Allah (swt). O Alcorão expressa esse princípio de forma sublime:

“Seja o que for que façais, seja o trecho do Alcorão que reciteis, seja qualquer ação que pratiqueis (boa ou má), somos Testemunhas disso, quando a praticais. E nada é oculto a Allah, nem mesmo o peso de um átomo na terra ou no céu.” (Alcorão, Surata Yūnus, 10:61)

Muraqabah envolve atenção às intenções, emoções, pensamentos e estados internos. É o esforço consciente de adorar Allah (swt) reconhecendo Seus Nomes e Atributos, compreendendo Sua Onisciência e buscando purificar o coração diante d’Ele. Quatro são as dimensões da muraqabah:

1. Conhecimento de Allah (swt) – reconhecer Sua presença e soberania.

2. Conhecimento dos inimigos de Allah (swt) – manter-se vigilante contra o desvio.

3. Conhecimento da alma e de sua inclinação ao mal – combater o ego e suas tentações.

4. Conhecimento das ações realizadas por Allah (swt) – agir sempre em Seu nome e para Sua causa.

Como praticar a murāqabah

O pensamento polimático, sobre diversos temas e assuntos, não significa tornar-se especialista em tudo, mas aprender o suficiente em várias áreas interligadas para entender como elas se relacionam, tomar decisões mais sábias e enxergar o mundo como um sistema integrado e não como um conjunto de partes isoladas.

Essa forma de pensar exige alguns hábitos intelectuais. O primeiro é a curiosidade. A curiosidade é o desejo genuíno de descobrir como as coisas funcionam. O segundo é a disciplina. Disciplina é a capacidade de manter o estudo constante mesmo quando o progresso é lento ou desafiador. O terceiro é a síntese, ou seja, a habilidade de conectar insights de diferentes campos para construir uma visão unificada. E, por fim, a humildade, fundamental para reconhecer os próprios limites e assim abrir espaço para um aprendizado mais profundo.

O pensamento polimático

O valor do conhecimento no Islã

No Islã, o conhecimento (‘ilm) é luz, elevação e aproximação de Allah. O primeiro mandamento revelado ao Profeta Muḥammad ﷺ foi:

“Lê, em nome do teu Senhor que criou.” (Al-ʿAlaq 96:1)

Desde esse instante, a fé islâmica nasceu sobre o pilar do saber e da reflexão.
Aprender é uma forma de adoração, e buscar o conhecimento é um dever para todo muçulmano.

“Allah elevará em graus os que tiverem recebido o conhecimento.” (Al-Mujādilah 58:11)

O verdadeiro conhecimento conduz à humildade, ao temor de Allah e à prática do bem. Ele não se limita às ciências religiosas, mas abrange tudo o que traz benefício e harmonia à criação da fé ao universo, da alma à razão.

“Quem trilha um caminho em busca do conhecimento, Allah lhe facilita o caminho para o Paraíso.” (Muslim)

Assim, o Islã nos ensina que aprender é viver com propósito.
Estudar, ensinar e refletir são formas de iluminar o coração e de servir à humanidade.

O conhecimento é a luz que guia o crente do mundo até o Paraíso.

A prática da muraqabah não é uma busca por êxtase espiritual nem uma técnica de prazer interior. Assim como o exercício físico fortalece o corpo, a atenção plena fortalece a mente e o coração é um treino diário de presença, paciência e fé.

O objetivo não é substituir os atos de adoração, mas aprimorá-los, tornando-os mais conscientes e sinceros.

A atenção plena no Islã é, portanto, uma forma de fortalecer a fé e refinar o coração, transformando cada momento da vida das orações à rotina diária em um ato consciente de lembrança e adoração a Allah (swt).

Muraqabah é viver cada momento como se víssemos Allah e se não O vemos, saber que Ele nos vê.

REFERÊNCIAS

AL-QARADĀWĪ, Yūsuf. O Cultivo Espiritual no Islã. Cairo: Islamic Research Institute, 2000.

BADRI, Malik. Contemplation: An Islamic Psychospiritual Study. Herndon: The International Institute of Islamic Thought (IIIT), 2000.

NAWAS, Abdul Kabir. Muraqabah: The Islamic Concept of Mindfulness. Journal of Islamic Psychology, v. 3, n. 2, p. 45–62, 2020.

A curiosidade sobre a vida do outro

A tradição islâmica estabelece distinções entre práticas moralmente reprováveis relacionadas à curiosidade sobre a vida alheia. Entre elas encontram-se o tajassus, que é a investigação indevida da intimidade alheia; a ghibah, que consiste em mencionar alguém na sua ausência com algo que essa pessoa desaprovaria e a namīmah, que é a propagação de boatos e informações que fomentam discórdia.

A formulação clássica de ghibah é registrada por Imām An-Nawawī em Riyāḍ aṣ-Ṣāliḥīn, ao citar o hadith no qual o Mensageiro de Allah ﷺ define:

“Ghibah é mencionares teu irmão com algo que ele detestaria.”

Quanto ao tajassus, Ibn Kathīr, em sua exegese da Surata Al-Ḥujurāt (49:12), esclarece que o termo se refere ao ato de “procurar deliberadamente as falhas ocultas das pessoas”, violando a privacidade e a honra que o Islã ordena resguardar.

Proibição explícita no Alcorão

O versículo diz:

“E não espionem…” (wa lā tajassasū) — Al-Ḥujurāt 49:12.

Hadiths autênticos sobre investigar a vida das pessoas

Hadith 1: Allah expõe quem expõe os outros

“Quem investiga as falhas de seu irmão, Allah investigará suas falhas…” Ṣaḥīḥ al-Bukhārī.

Hadith 2: Deixar o que não lhe diz respeito

“Da perfeição do Islã do indivíduo está deixar aquilo que não lhe diz respeito.Tirmidhi.

Hadith 3: Segurança da língua

“O muçulmano é aquele de cuja língua e mão os demais estão a salvo.” Ṣaḥīḥ Muslim.

A curiosidade indevida corrompe o coração

Diversos teólogos analisaram a dimensão espiritual desse vício. Al-Ghazālī, no Iḥyāʾ ʿUlūm ad-Dīn, coloca o tajassus como uma doença do coração associada à inveja e à arrogância. Ibn Taymiyyah, em Majmūʿ Fatāwā, afirma que o crente deve se ocupar de suas próprias falhas e Ibn al-Qayyim, no Madarij as-Sālikīn, explica que investigar pecados alheios leva à destruição espiritual.

Interesse saudável x curiosidade pecaminosa

An-Nawawī, em seu comentário aos hadiths, distingue que “investigar por justiça” (baḥth ʿan al-ḥaqq) é permitido, já “investigar por malícia” (baḥth ʿan ʿatharah an-nās) é proibido.

Impacto social e comunitário

Os juristas de diversas escolas concordam que proteger a honra do muçulmano é obrigação coletiva (farḍ kifāyah) e violá-la cria corrupção social (fasād) e quebra de confiança (thiqqah).

Posição dos teólogos e juristas sobre privacidade

O tema da privacidade é tratado e dentre as proibições fundamentais como entrar em uma casa sem permissão (Alcorão 24:27), espionar, ouvir conversas, vigiar comportamentos e ou procurar pecados ocultos.

Virtude oposta: proteger a honra e ter boa suposição

Os sábios afirmam que três virtudes anulam o tajassus. A boa suposição (ḥusn adh dhann), o cobrir falhas (satr al-uyub e o silêncio virtuoso (samt).

Duʿāʾ

Ó Allah, purifique nossos corações de curiosidade indevida, fortaleça-nos contra investigar aquilo que não nos diz respeito e torne-nos guardiões da honra dos nossos irmãos e irmãs. Amīn.

Referências

Muhammad al-Ghazālī — Khulq al-Muslim.

Abdul Fattah Abu Ghuddah — Min Akhlāq al-ʿUlamāʾ.

Yūsuf al-Qaraḍāwī — Al-Ḥalāl wa al-Ḥarām fī al-Islām.

Leia mais: O tempo é criação de Allah!